Alcoolémia XXVI Anos - Entrevista a Márcio Monteiro

14-08-2018

Os Alcoolémia fazem hoje vinte e seis anos de carreira. Uma carreira de rock 'n' roll, que muitas das vezes teve mais de rocks que de rolls. Mas a paixão fala mais alto e os Alcoolémia estão cá para nos mostrar como se faz Rock português e em português.  E o  ROCK IN THE ATTICK não podia deixar passar esta data em branco, uma vez que os Alcoolémia fazem parte deste sótão e da vida desta "Attic Woman" . 

Para celebrar esta data, o ROCK IN THE ATTICK entrevistou cada um dos elementos da banda, e esta semana, publicará essas entrevistas, uma por dia. Começamos pelo Márcio Monteiro, baterista "que faz caras estranhas enquanto toca" e que é o mais recente elemento da banda.

Vamos então conhecer o Márcio, o baterista "metálico":

RA - Para além de seres o baterista dos Alcoolémia, quem é o Márcio Monteiro?

MM - Eu nasci no Brasil, mais propriamente em Recife, no belo ano de 1980. Filho de Mãe Portuguesa e Pai Brasileiro, acabei por vir para a terra da minha Mãe com a minha família aos 8 anos de idade, e desde então não voltei ao Brasil. Portanto, tenho muito orgulho na minha Pátria, nas gentes da minha terra, mas considero-me Português, e mais Português que muitos Portugueses porque tenho uma paixão enorme por este País, pela sua história, pelas suas tradições, e gosto muito de cá estar. Sempre fui radicalmente contra este "movimento" de abandonar Portugal e ir lá para fora porque "ganha-se mais". Não gosto do que temos sofrido aqui com toda esta história da crise, mas sei que abandonar o barco também não é a solução. E felizmente que já estamos a viver melhorias, embora me dê muita pena esta coisa que os Portugueses têm da "chico-espertice" e de não olhar a meios para vencer, e digo isto porque estamos a matar a essência de uma cidade única como é Lisboa, e de todo o País um pouco também, tudo pelo turismo. 

Mas adiante... tive uma infância tranquila, nunca fui de dar problemas, e na juventude comecei a trabalhar cedo, aos 16 anos. Tive uma grande escola ao trabalhar na restauração, que me deram noções muito fortes de responsabilidade, de empenho, e foi também uma época muito importante a nível das amizades e novas descobertas. Tive sempre vontade de seguir a música a nível dos estudos, mas acabei por ir por outro caminho, sem nunca deixar a música de lado. 

Depois dos meus vinte anos comecei a evoluir rapidamente a nível profissional, e estive a trabalhar no mundo dos relógios por 10 anos. Mantive sempre uma vida dupla, onde de dia vestia fato e gravata, ou apenas a bela camisinha e calças chino, e à noite ia ensaiar ou tocar ao vivo com as minhas primeiras bandas de originais. Adorava esse contraste na minha vida. Em 2011 torno-me empresário e abro uma loja especializada em equipamento para desportos Outdoor, e em 2014 caio de para-quedas nos Alcoolémia. O ter-me tornado empresário só fez com que eu tenha de trabalhar mais do que nunca, mas também me permite gerir melhor o meu tempo para a música, embora esse seja forçosamente pouco. A entrada para os Alcoolémia, além de ter sido algo que nunca imaginei, foi e está a ser marcante para mim, tanto como músico, como a nível das amizades que tenho vindo a fazer.


RA - Qual foi o momento da tua vida que marca o teu futuro como músico? Aquele momento em que disseste "é isto que eu quero fazer" 

MM - Acho que nunca tive esse momento exacto, foi acontecendo aos poucos quase sem eu dar conta. Lembro-me que desde muito pequeno sempre tive a mania de batucar nas coisas, sem sequer imaginar que pudesse ter algo a ver com música, ou bateria, ou percussão. Não sou um grande baterista, mas sei que tenho o ritmo no sangue. Passo os dias com batidas na minha cabeça. Mas foi no 7.º ano que a coisa começou a ficar clara para mim, ao acontecerem duas coisas: descobrir uma banda chamada Metallica, e uns amigos meus terem decidido criar uma banda, e dizerem-me que eu ia ser o baterista. Estas duas coisas aconteceram basicamente ao mesmo tempo, e a paixão pelos Metallica fez nascer também uma paixão pela bateria, tendo o Lars Ulrich como grande inspiração.


RA - Quais as tuas influências musicais?

MM - Cá está, Metallica é uma influência óbvia. Mas eu oiço muitas coisas, que são completamente diferentes umas das outras. Desde thrash metal a fado, passando por pop, rock, ao jazz... desde que seja bom (para mim). Mas quando comecei a aprender a tocar bateria, sozinho, lembro-me que tocava em cima de temas de bandas como Barão Vermelho, Mamonas Assassinas, Green Day, Nirvana, algumas de Metallica, sei lá... basicamente a base das minhas influências é o Rock , puro e duro. Mas ao longo dos anos, muita coisa, muito diferente, tem sido influência para mim. Não vou começar a dizer bandas, senão não saímos daqui!


RA - Como vês a actualidade musical? O Rock é, hoje em dia, um nicho de saudosistas?

MM - Não vejo a actualidade musical nada bem, infelizmente. Produz-se tanto lixo musical, que até se torna difícil descobrir aquilo que se faz de bom. Antigamente as coisas eram muito diferentes, principalmente antes da internet. Toda a vida era diferente. Havia tempo, conseguíamos sentar e ouvir um álbum do início ao fim, ler as letras, até os agradecimentos da banda líamos! Hoje em dia é tudo a correr, ouvimos tudo online, em modo shuffle, e qualquer pessoa no seu quarto faz "música", e o resultado está à vista. A nova geração tem sido enganada, e crescem a ouvir musicas que não valem nada, achando que aquilo é que é bom, e nem imaginam que existem bandas e músicas realmente boas por aí. Não me refiro só ao Rock, mas à música em geral. Basta pensarmos que há malta, hoje em dia, que não sabe quem são uns Pink Floyd, uns Led Zeppelin, ou até uns Queen.


RA - As plataformas digitais, o facebook, o YouTube, são uma forma de chegar a mais público e a novo público. Como é que isso impacta, se é que impacta, nos Alcoolémia? Trouxe alguma alteração ao público que vai aos vossos concertos?

MM - Sem dúvida que impacta, pois hoje em dia é a principal forma de se divulgar música e bandas. É a nova TV. Para mim a melhor forma de medir o impacto nos Alcoolémia é olhar para o concerto que fizemos no auditório do Seixal, onde focámos muito na divulgação online, e tivemos sala esgotadíssima.


RA - Como é que um baterista de influências de heavy metal (tal como referiste, Metallica é a tua grande referência) se sente e enquadra numa banda como os Alcoolémia, que são Rock, mas longe dos ritmos pesados?

MM - Eu sinto-me muito bem e perfeitamente enquadrado numa banda como os Alcoolémia. A minha base é o Rock, e quando tocamos ao vivo acabo por fazer algumas coisas que me saem directamente das minhas influências mais pesadas, e faço-o porque sinto que fica bem nestes temas. No entanto eu poderia estar a tocar com o David Fonseca ou o Tiago Bettencourt, e aí, claro, deixaria estas influências de lado. Tudo depende do tipo de música que eu esteja a tocar. Mas ainda tenho esperança de tocar num tributo a Metallica! Tivesse eu tempo e já tinha engatado o Manelito para isso, que também é fã como eu.


RA - Tens uma energia fantástica em palco. Ao vivo, é impossível não dar por ti, apesar de estares lá atrás, escondido pela bateria. A tua expressão de gozo e prazer, o teu sorriso, são absolutamente cativantes. Tens noção disso, dessa energia que passas?

MM - O que eu tenho noção é que faço umas caras maradas quando toco! Nem sei, eu quando estou lá atrás a tocar perco um bocado a noção do que faço fisicamente. Tenho noção de que sou um pouco bruto com a bateria, mas não consigo tocar de outra maneira, aquilo é uma adrenalina muito forte que toma conta de mim. 


RA - Para além da música, és proprietário da loja de desporto YUPIK, cujo Kit de emergência Sísmica, foi notícia na SIC. Como surge esta actividade e como a conjugas com a música?

MM - Esta actividade, curiosamente, surgiu através da música. A certa altura da minha vida conheci um baixista, que tocou comigo numa das minhas primeiras bandas de originais, e tornámo-nos grandes amigos, além de companheiros de banda. Ele é mais velho que eu, e tinha nessa altura uma loja como a minha, mas com outro nome. Por várias razões, as coisas não estavam a ir muito bem, e eu acabei por ficar com a loja e fazer um investimento significativo. Renovei a loja, mudei o nome e a imagem, e é a minha vida desde 2011. A conjugação com a música não é nada fácil, mas por outro lado seria bem mais difícil se eu trabalhesse por conta de outrem. Basicamente, com a loja, a música e a família, ando sempre a mil, de agenda apertada, e sem tempo para quase nada. É um pau de dois bicos, porque por um lado permite-me ter alguma liberdade para gerir ensaios, concertos, viagens, televisões, etc. Mas por outro exige muito tempo e dedicação, o que não me permite ter tempo para estudar bateria como eu gostaria, e por isso sou um baterista mediano. Mas o que é preciso é Rock 'n' Rol!!

Muito obrigada Márcio, pela tua disponibilidade e simpatia. E que nunca deixes de  fazer essas caras "maradas" que tanta paixão nos transmitem!


* Fotografias disponibilizadas no perfil do facebook do Márcio. 

Rosa Soares (Rocky Rose)

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